Serpente Peçonhenta e Não Peçonhenta, como identificar?
- Danielle Pires Machado
- 24 de set. de 2015
- 4 min de leitura
Poucas características são seguras para a identificação de serpentes venenosas. Entre elas, as mais importantes e fáceis de verificar são os dentes e a presença de fosseta loreal, descritas a seguir. Diversas outras características normalmente encontradas em textos sobre serpentes não são seguras para a identificação de serpentes venenosas; estas características estão listadas e comentadas mais adiante, em “Características que não são seguras para identificar serpentes venenosas”.
Dentição
A dentição está intimamente relacionada com o tipo de alimento utilizado pela serpente e é uma ótima característica para a identificação das espécies venenosas. Os dentes inoculadores de veneno (ou presas) das serpentes peçonhentas possuem um canal interno por onde passa o veneno.
As serpentes são classificadas segundo a posição do dente inoculador e quanto a sua presença ou ausência. A classificação é a seguinte:

a)- Áglifa
As serpentes áglifas possuem todos os dentes iguais e sem nenhum sulco ou canal para a inoculação do veneno, portanto, a serpente que possui este tipo de dentição é considerada não peçonhenta. Algumas serpentes áglifas podem morder para se defender, mas não há envenenamento.
Exemplos de serpentes áglifas: caninana, dormideira, jibóia, sucuri.
b)- Opistóglifa
As serpentes opistóglifas apresentam na parte de trás da boca, dentes com sulcos por onde escorre uma saliva tóxica. Estes dentes são utilizados para inocular veneno durante a mordida. Algumas destas serpentes possuem venenos ativos no homem porém, este tipo de envenenamento é raro, pois a maioria das espécies com este tipo de dentição é dócil e não morde para se defender.
Exemplos de serpentes opistóglifas: cobras-cipó (algumas espécies), falsascorais (algumas espécies) e muçurana.
c)- Proteróglifa
As serpentes proteróglifas possuem na parte da frente da boca dentes móveis e curtos, usados para a inoculação de veneno. Estas presas são fixas e pouco maiores que os outros dentes, portanto o animal a ser ingerido é envenenado através de uma mordida, durante a qual o veneno é inoculado. Os acidentes ocorrem quando estas serpentes mordem o homem para se defender. Toda serpente que possuir este tipo de dentição é venenosa.
Exemplos de serpentes proteróglifas: no Brasil, apenas as corais-verdadeiras possuem a dentição do tipo proteróglifa.
d)- Solenóglifa
As serpentes solenóglifas apresentam na parte da frente da boca dois dentes grandes e móveis, parecidos com uma agulha de injeção, que são usados para inocular o veneno. Estes dentes são recurvados e móveis, permitindo sua movimentação para frente durante a picada (ou bote). Quando em repouso, estes dentes encontram-se recobertos por uma membrana. Os acidentes ocorrem quando estas serpentes picam o homem para se defender. Toda serpente que possuir este tipo de dentição é venenosa.
Exemplos de serpentes solenóglifas: cascavel, jararaca, jararacussu, urutu e surucucu.
Fosseta loreal

A fosseta loreal é outra característica muito útil para a identificação de serpentes venenosas, pois ela ocorre apenas nas espécies da família Viperidae (surucucu, cascavel e jararacas ou surucucuranas, é importante notar que as corais verdadeiras não possuem fosseta loreal, embora sejam venenosas).
A fosseta loreal é um orifício localizado entre a narina e o olho e consiste de um órgão receptor de calor (ou das ondas infravermelho emitidas por um animal “de sangue quente”).

Características que não são seguras para identificar serpentes venenosas
Algumas características popularmente conhecidas e frequentemente citadas em textos sobre serpentes, não são seguras para a identificação de serpentes venenosas. Entre estas características, as citadas com maior freqüência são:
Cabeça triangular: Esta é uma característica comum para diversas serpentes. Vale lembrar que, apesar da fama, a jibóia possui cabeça triangular e não é venenosa. Além disso, algumas serpentes não-venenosas “triangulam” a cabeça, aparentemente para imitar algumas espécies venenosas e assim tentar assustar seus predadores. Portanto, o fato de uma cobra ter a cabeça triangular não significa necessariamente que ela seja venenosa.
Cauda afilada abruptamente: Esta é outra característica comum a diversas espécies. Como por exemplo, a jibóia, mais uma vez, e as cobras-da-terra, que embora possuam a cauda afilada abruptamente, não são venenosas. Portanto, o fato de uma cobra ter a cauda afilada abruptamente não significa necessariamente que ela seja venenosa.
Anéis que dão a volta completa no corpo em espécies de Corais: Tanto as corais verdadeiras como diversas corais falsas possuem anéis que dão a volta completa ao redor do corpo. Algumas corais verdadeiras podem apresentar anéis incompletos e até não apresentar qualquer anel. Portanto, o fato de uma serpente possuir anéis que dão a volta toda no corpo, não significa que estas são venenosas.
O arranjo de anéis coloridos em espécies de Corais: O arranjo dos anéis coloridos (vermelhos, negros, amarelos ou brancos) varia muito de espécie para espécie nas corais verdadeiras. Portanto, não existe um arranjo típico dos anéis coloridos que caracterize todas as corais verdadeiras. (Deste modo, a única maneira segura de se distinguir uma coral verdadeira de uma coral falsa é através do exame dos dentes).
Desenhos em forma de triangulo na lateral do corpo: Além das jararacas, existem algumas espécies de serpentes não-venenosas que possuem desenhos em forma de triângulo na lateral do corpo. Estas espécies não-venenosas parecem imitar as jararacas para assim assustar seus predadores. Portanto, o fato de uma cobra ter desenhos em forma de triângulo na lateral do corpo não significa necessariamente que ela seja venenosa.
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